segunda-feira, 1 de junho de 2009

Romaria do Senhor das Almas

Não conhecendo a história inicial da antiguidade desta romaria, vou, através de uma fotografia de 08/06/1935, recordar, aqui, outros tempos.
E assim, poderemos observar na imagem os protagonistas da comissão de festas desse ano: Em primeiro plano Américo Peres, João Ferreira, Serafim Costa e Valério. Em segundo plano António Alves dos Santos, o electricista da Câmara Laceiras e Afonso da Costa Mendes.
O dia começava com a habitual alvorada, seguida pela actuação da filarmónica, percorrendo as ruas da sede da freguesia. Entretanto, iam-se instalando as bancas de venda, como dos ourives (atrás da capela), de bonecos e toda a espécie de carrinhos de lata ou madeira e demais brinquedos, as doceiras de Lagares, também como os ainda habituais vendedores de pimentos e as primeiras cerejas do vale do Alva.
Com o aproximar da hora e como era principalmente uma festividade religiosa, o clima ia-se compondo à medida que se aproximava a celebração da missa. Nesse tempo ainda se vivia o espírito de romaria. Era ver os romeiros, provenientes das quintas e lugares das redondezas, caminhando com a família, vestindo os melhores fatos domingueiros, a mulher levando à cabeça o típico cabaz de verga com a merenda e os homens liderando a caminhada, com o chapéu na cabeça, como era hábito naquele tempo.
Naquele ano a festa foi rija, já que houve disputa de duas bandas para um só coreto, tendo sido privilegiada aquela que tocasse mais e melhor. A outra teve de contentar-se com uma solução de recurso.
Era na parte da tarde que propriamente se desenrolava a festa. Os romeiros começavam a sinalizar os locais onde iriam merendar, normalmente durante ou após a passagem da procissão: à cabeça com o Pendão da Irmandade de Nª Sr.ª do Rosário, seguida dos tradicionais andores do Senhor das Almas, N.Srª da Guia, da Saúde e das Dores, o povo cumprindo ou não promessas acompanhando as crianças vestidas de anjos, o Pálio, a filarmónica e o povo em geral. Era o ponto alto da festa religiosa que culminava, na parte final, com uma grande descarga de foguetes.
Os locais de merenda preferencialmente escolhidos eram muito perto da capela, como o pinhal da Ucha e o que está circunscrito ao pinhal junto ao parque. Quanto a este, não existia como tal, antes era cultivado com cereais, o que motivava, por vezes, sérios conflitos. É que era inevitável alguma devassa e quem o cultivava, não gostava mesmo nada…!
Voltando às merendas, a mesa era posta no chão, as pessoas sentavam-se à volta e aí saboreavam a boa merenda, não sem que se bebesse do melhor vinho, quer de origem caseiro, quer de compra, numa ou duas barracas onde se vendia também a laranjada e o já célebre “pirolito”.
De regresso a casa, já sem pensar no jantar, lá seguiam os cestos da merenda, agora bem mais leves, mas com os romeiros mais animados, sobressaindo a estampa de uma das imagens religiosas, tradicionalmente colocada na fita dos chapéus na cabeça dos homens. Era o Romeiro em fim de festa.

Tamarres

4 Olhares:

Atento disse...

Só faltou recordar as infelizes confusões e desacatos que acabavam por ser também uma tradição da romaria, e que tinham lugar sempre por volta da fim da tarde quando já ninguém tinha muita sede.
Os meus parabéns ao autor do texto pela belíssima descrição desta secular tradição.

Antonio Campos disse...

Realmente está muito bem escrito aquilo que diz sobre a romaria do S.das Almas.Parabéns ao autor.

Anónimo disse...

Ainda sou do tempo que esta era a festa mais importante de Nogueira a par da festa de N.S.Rosário... que saudades...

Anónimo disse...

A fotografia é uma preciosidade.