terça-feira, 27 de novembro de 2007

As Invasões Francesas em Nogueira do Cravo

Em 1811 a vila de Nogueira do Cravo destacava-se na região por ser das maiores povoações e era cabeça de concelho. Não admira que devido a isso e à sua excelente localização estratégica, fosse a freguesia mais fustigada pelos ataques Franceses. Pelo menos foi onde se registaram mais baixas na população da sua área de freguesia. Ao todo foram 10 os Nogueirenses que perderam a vida. Para que conste aqui fica o registo:

Josefa Nunes do Pedro, que por estar enferma havia recebido a sagrada Comunhão e confissão;
Manuel Pinto, solteiro;
Maria Jorge, solteira;
Manuel Francisco Caneiro, solteiro, “creado que tinha sido do defunto Prior desta igreja José Joaquim”. Este ainda recebeu a confissão e extrema-unção.
Manuel Cardoso, solteiro, creado de José Madeira da Quinta da Costa. “Tinha recebido a confissão de uma enfermidade de que não tinha ainda convalescido”.
Foram todos sepultados dentro da “Parochial”
Manuel Fonseca;
Manuel da Costa, casado com Antónia Marques, de Vilela e assistente na sua Quinta da Toca;
Manuel Francisco, casado com Ana de Figueiredo e residentes em Vilela;
José Francisco, “casado que tinha sido, em Unhais da Serra, estava enfermo e tinha já recebido a confissão”.
Foram todos sepultados na capela da Senhora da Conceição, capela do povo de Vilela,
Maria Nunes, viúva, de Aldeia de Nogueira e foi sepultada dentro da capela de Santa Luzia.



Um desacato sacrilégio
Em Nogueira do Cravo não houve apenas mortos e o mais que se poderia esperar de uma soldadesca faminta a caminho da sua terra distante. Dois assentos dão-nos conta de um sacrilégio inaudito – a destruição do sacrário da igreja.
O P. Coadjutor, na falta do Prior José Joaquim que teria falecido em data não muito distanciada, explicou, no assento do óbito do creado que lhe tinha sobrevivido, “e não recebeu a comunhão por ter sido inteiramente destruído pelos Franceses o sacrário da igreja”.
Nogueira ficou assim sem o seu sacrário e sem a presença do Santíssimo Sacramento por…largos dias pelo menos, como o testemunha o assento lavrado em 1 de Abril.

Um soldado morto
Em 1 de Abril novo óbito ocorrido em Vilela e novo assento lavrado no respectivo livro.
Transcrevemos:
“Em o primeiro dia de Abril de mil oitocentos e onze faleceu da vida presente com o sacramento da confissão e não recebeu a comunhão por ter sido destruído o sacrário da Igreja pelos Franceses nem a Extremaunção por não ser chamado, Francisco, soldado da Quinta Companhia do Regimento de Viana, está sepultado da parte de fora da porta principal da capella de Villela desta freguesia e para constar fiz este assento que assinei dia mez era ut supra.
O coadjutor José Borges Madeira”.

Donde era este soldado? De Vilela, de perto ou de longe? E de que teria morrido? De doença ou ferimentos em combate?
Ficamos com pena de o P. Coadjutor não ser mais explícito no seu assento.
Uma coisa, no entanto, é certa – é que fazia parte do Regimento de Viana que perseguia os invasores, e a morte surpreendeu-o ali em Vilela, e ali foi sepultado à porta da capela da Senhora da Conceição, talvez por não ser conveniente sepultá-lo dentro, onde jaziam, de há pouco vitimas das invasões.
Pensarão os habitantes de Vilela ao entrar na sua capela pela porta principal, que pisam a sepultura do pobre soldado falecido em 1 de Abril de 1811?

*Este texto foi elaborado pelo saudoso pároco Laurindo Marques.

2 Olhares:

Unknown disse...

Pe�o desculpa, mas n�o s�o 10 os mortos. S�o 12, assim:
Falta Jos� solteiro, criado de Maria Nunes (Vila), sepultado na igreja paroquial em 23.12.1810.
Falta Ant�nio Nunes, falecido em 25/12/1810, natural de Talisca, sepultado na capela de Vilela.�
J� agora informo que Manuel Cardoso, da Quinta da Costa, falecido a 22/3/1811, era o criado do padre Jos� (Borges) Madeira e est� sepultado na Igreja paroquial.
O padre acima referido, de seu nome Jos� Joaquim de Barros Coelho de Faria, faleceu em 16.11.1810 e est� sepultado na Capela Mor da Igreja Paroquial,pelo que lhe sucedeu o coadjutor Jos� Borges Madeira.
Sobre os estragos causados pelos franceses, disponho do relato feito, quer quanto a Nogueira, quer quanto a Galizes. Tamb�m aqui houve mais um assassinato.
Se se proporcionar, darei, mais tarde, conhecimento via email, do que aconteceu.

Anónimo disse...

Sinceramente fico estupefacto com a história, com as personagens e com as informações centenárias que dispõem. E que louvávelmente têm o cuidado de publicar. Desconhecia quase totalmente a maioria das informações que aqui têm sido publicadas, no entanto creio que até a maioria dos NOGUEIRENSES desconhecia tamanha história. Os meus sinceros parabéns às pessoas envolvidas.