segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Padre Manuel Henriques - O Pintor Santo (I)

Já anteriormente se falou em Padre Manuel Henriques, mais uma grande figura Nogueirense que ficou algo esquecida no seu tempo.
Aqui fica a primeira de três partes onde se transcreve a história desta personalidade. Um trabalho levado a cabo por António da Rosa intitulado "Quem foi Manuel Henriques, o pintor santo?", publicado na Comarca de Arganil entre Janeiro e Fevereiro do ano de 2004, e gentilmente enviado para o email do "Olhar Nogueira do Cravo" por um colaborador deste espaço.
Que através deste meio, se consiga imortalizar a vida e os feitos deste filho de Nogueira do Cravo.

Em primeira abordagem ao estudo feito sobre a vida deste padre jesuíta, pintor e santo, detivemo-nos na pesquisa feita no Dicionário da Arte Barroca em Portugal, que transcrevemos e daqui lá fomos à Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra aprofundar o estudo nos livros de António Franco “Imagem da Virtude em o Noviciado da Companhia de Jesus no Real Colégio de Jesus de Coimbra”.
No capítulo LXXXIX e sob o título “Vida do Irmão Manuel Henriques – Pintor” o autor começa por referir alguns aspectos sucintos da vida e morte de outros irmãos até chegar ao nosso visado; a este dedica larguíssimas páginas que vamos tentar transcrever sem adulterar os aspectos fundamentais de toda a vida de Manuel Henriques, já que o livro é escrito num português arcaico, mas perfeitamente perceptível.
“Nasceu talvez pelo ano de 1593 na vila de Nogueira do Cravo, Bispado de Coimbra. Seus pais eram gente honrada e virtuosa e chamavam-se Baltazar Antunes e Ana Henriques. Era parente de outro nosso padre Marcos Jorge, o que compôs a cartilha da Santa Doutrina, a que vulgarmente chamavam Mestre Inácio. Foi baptizado na Igreja de Nossa Senhora do “O” (agora Nossa Senhora da Expectação); nesta vila se criou até aos dozes anos, idade com que foi para Coimbra para a casa de um seu tio, o cónego Tomé Nunes. Estando nesta casa lhe aconteceu um desastre; andava ele jogando com outro do seu tempo, houve entre eles uma desavença e Henriques metendo a mão em uma faca lhe deu tal ferida que dela morreu ao fim de três dias. Foi por causa deste sucedido obrigado a mudar de terra e depois de Reino. Passou à cidade de Sevilha, na Andaluzia. Já neste tempo sabia alguma coisa de latim, porém a sua propensão o levava a ser pintor. Seguindo a sua inclinação se acomodou com um pintor, o qual vendo nele “bom feitio” o começou a ensinar e tratar como filho. Apesar destes cuidados, não esquecia o grande problema de consciência que o atormentava devido à morte que cometera e desejava ardentemente recolher-se em alguma religião, para fazer penitência do seu pecado. Nestes bons desejos o alentava o padre Alonso Rodrigues, muito conhecido no mundo pelas suas virtudes e livros admiráveis e aquém Manuel Henriques se confessava. Afeiçoou-se Henriques à religião de São Basílio; como os religiosos tinham conhecimento da sua índole e talento facilmente aceitaram a sua pretensão. Passados alguns anos veio ele mesmo a Coimbra e para não o prenderem recolheu-se no Collégio de Jesus. Aí pintou o seu primeiro grande trabalho um quadro do Rei D. João I. Ali era visitado por muitos padres que apreciavam os seus trabalhos e bons modos, o foram julgando apto para a companhia de Jesus e o iam afeiçoando. Mas ele estava com todos os seus sentidos na religião de São Basílio e só pensava no seu regresso a Andaluzia. Sucedeu que em uma ocasião ia passando o venerável padre Diogo Monteiro por onde estava Manuel Henriques e lhe disse estas únicas palavras: Senhor Manuel Henriques fique connosco e seja da Companhia. Pôs Deus tanta força nestas palavras, que como ele depois dizia, lhe não deixaram lugar a dúvidas, respondeu que sim, queria ser da Companhia de Jesus e que sua Reverência lhe diligenciasse este bem. Pediram autorização a Roma que a negou. Tanto instaram nesta petição que ao fim de dos anos finalmente veio a ordem para entrar na Companhia de Jesus o que aconteceu aos sete de Novembro de 1618. Começou o seu Noviciado e o continuou com grande edificação. Passou depois para o Collégio de Évora onde pintou o Santo Pratiarca e muitas outras obras com que ornamentou aquele Collégio. Também esteve em Lisboa, porém a maior parte da sua vida passou-a em Coimbra onde fez quase todas as pinturas que há naquele Santo Collégio. Ornamentou também a Casa de Nossa Senhora da Lapa (Beira Alta), de que era devotíssimo e onde morreu. Mas da sua morte se falará mais à frente”



Continua...

3 Olhares:

Anónimo disse...

Cada vez mais este blog está a melhorar e a divulgar NOGUEIRA DO CRAVO!
Continuem assim que estão no bom caminho. Já agora um agradecimento ao Sr.Prof. Martins, autor desta pesquisa sobre a vida de um grande Nogueirense. A todos um Santo e feliz Natal.

Unknown disse...

Este blog pode melhorar mais. Há mais informação a divulgar que dependerá da participação e envolvimento dos Nogueirenses. Este blog está no caminho certo, mas também o seu gestor se motivará mais, se houver maior participação.
No caso em apreço merece destaque a investigação de A.R.
Da minha parte, pedia às pessoas que tenham dados dispersos, como fotografias ou textos antigos, que os canalizem para o blog. Se esta participação alargada se concretizar, estou certo que aparecerão dois ou três investigadores que, em Nogueira, se preocupam com a nossa história e não deixarão de publicar essas novidades.
Daí o meu alerta para a participação dos jovens. Neste Natal, Nogueira parecia uma terra sem identidade. Talvez que conhecendo melhor a sua história, haja uma mudança de atitude.

Unknown disse...

De acordo com a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, entre outros, faz hoje, dia 29/12 354 anos que faleceu este grande Nogueirense. Há um outro estudo que aponta para a data de 2.9.1654.
De todo o modo e sem prejuizo de melhor investigação, é justo aqui evocar a sua memória com passagens da sua vida e obra.