Forais em Nogueira do Cravo

Nogueira terá tido três forais?

Com esta pergunta, que poderá ser surpreendente para algumas pessoas, pretende-se, junto das mais avalizadas na matéria, contributos que nos possam levar a um melhor esclarecimento.
Não obstante as consultas efectuadas na Torre do Tombo, saí de lá com dúvidas, uma certeza e uma incerteza, assim:

1- Dúvidas no foral de Maio de 1177
2- Uma certeza quanto ao foral Manuelino de 1514
3- Uma incerteza quanto ao um foral dado por D. Afonso IV.

Quanto ao primeiro foral, que este mês fará 831 anos, não duvido da sua existência, já que são várias as fontes credíveis que o referem, mas sim do seu conteúdo. No entanto, através da consulta efectuada no Livro dos Forais Velhos e da referência que consta no Livro II da Estremadura, fls 279, col. I, consultei o microfilme Refª 998/R e não consegui identificá-lo, levando-me a uma página que falava em (S)Cintra e não em Nogueira. Alguém já chegou, também, a esta conclusão.
Então o que correu mal? Referências erradas? Escrita difícil de entender?
Para além deste problema, como disse acima, há entre as várias fontes que o referem, pequenas divergências para as quais chamo a atenção no sentido de procurar a verdade. Assim começo por enumerá-las e onde se escreve, por exemplo:

1- Dado pelo de Avô em Maio de 1177-Episcopal (livro dos forais Velhos)
2- Dado por Avô em Maio de 1177 (Enciclopédia)
3- Dado em Avô em Maio de 1177 (Inventário Artístico de Portugal)
4- Dado por D. Afonso Henriques em 5.1.1177 (Enciclopédia Luso Brasileira da Cult.)
5- Dado por D. Afonso Henriques em Maio de 1177 (Portugal Antigo e Moderno)
6- Dado por D. Afonso Henriques....com todos os privilégios do de Avô (Dicionário Histórico)

As primeiras dúvidas suscitadas, decorrem quando referem:
1- Dado pelo.... por.....em Avô?
2- Episcopal?
3- Dado por D. Afonso Henriques em Maio ou Janeiro de 1177, ou ainda com todos os privilégios do de Avô?.
Pergunto em que ficamos, já que, com estes diferentes pormenores da escrita, levar-nos-à a diferentes interpretações?

1- Dado que o foral de Avô e que conheço, foi dado por D. Sancho I em 1/5/1187 (10 anos mais tarde), o que é mais lógico é que o nosso tenha sido dado em Avô (não pelo ou ainda. por). Poderá ser razoável especular que terá sido dado, de facto, por D. Afonso Henriques, eventualmente em Avô, pois este só faleceu em Coimbra a 6/12/1185.

2- Ser ou não ser episcopal
Portugal era, então, ainda um jovem reino, apenas com trinta e quatro anos e com as suas fronteira instáveis, com alguns avanços e recuos. De notar que só em 1179, finalmente, o Papa Alexandre III reconhece a independência de Portugal através da Bula Manifestis Probatum. Para estas conquistas e afirmação territorial, muito contribuiu o Clero. Como recompensa o rei fez importantes doações à Igreja. Terá sido este o caso? Mas então como explicar que a terra de Nogueira, à data do reinado de D. Sancho I, era uma terra reguengueira (propriedade do rei), pois este a doou ao fidalgo Mendo Pelágio (aio de seu filho e futuro rei) e só mais tarde foi parar à posse do clero? De notar que Avô passou para o poder do clero em 29.03.1240.

3-Dado por D. Afonso Henriques
No caso de Nogueira é uma hipótese. A partir de 1169, quando o nosso primeiro rei tinha 60 anos de idade, sofreu um acidente que o deixou, em definitivo, fisicamente incapacitado, sendo substituído nas lides guerreiras pelos seus filhos, não perdendo “de jure” capacidade de reinar e em consequência de atribuir cartas de foral, sabendo-se que, por exemplo, neste ano, deu foral a Linhares, portanto, ambos, ainda durante o seu reinado.

Na segunda parte, em Setembro, irei escrever sobre o foral Manuelino, com o texto e fotocópia extraídos em sede própria.
Na terceira parte, em Outubro, pronunciar-me-ei sobre um eventual terceiro foral, cujo texto quase por acidente descobri e que necessitará de ser confirmado como sendo nosso ou não. É que pertence também à região das Beiras e está com o mesmo nome do foral dado, mais tarde, pelo do Rei Venturoso.

Por: Tamarres