sábado, 27 de dezembro de 2008

Dados Históricos Sobre a Igreja de Nogueira do Cravo

O texto que a seguir se transcreve, a propósito da Igreja Paroquial de Nogueira do Cravo da autoria da Prof. Dr.ª. Regina Anacleto (docente da Faculdade de Letras de Coimbra) e publicado em A Comarca de Arganil, com o titulo “As Igrejas Paroquiais de Midões e Nogueira do Cravo”.

A outrora, vila de Nogueira do Cravo foi senhorio dos bispos-condes aeminienses que, alternadamente com o Papa, apresentavam os párocos; a última nomeação feita por aqueles, para o cargo de tabelião do público, judicial e notas de Nogueira, de Vila Cova e de São Sebastião da Feira, ocorreu a 9 de Julho de 1831 e caiu na pessoa de Luís Pedro Rodrigues, natural da mesma vila.
O primeiro foral, episcopal, foi-lhe outorgado em Avô, no mês de Maio de 1177 e no século XVI, quando D.Manuel procedeu à reforma das antigas cartas, também Nogueira do Cravo recebeu este documento, a 12 de Setembro de 1514.
De acordo com a informação paroquial de 1758, Nogueira do Cravo, onde já, no século XVIII, se realizava anualmente, a 25 de Julho, uma feira franca, está situada “em hum vale e della se nam descobrem povoaçoens algumas”.
Em meados do século XVIII, o termo de Nogueira estendia-se pela Aldeia de Nogueira, com trinta e três moradores ou vizinhos, Galizes, que se encontrava anexada à igreja de Nogueira, com sessenta e cinco vizinhos ou moradores e Torre, com quarenta vizinhos; contudo, a freguesia não coincidia com o termo da vila, compreendendo três lugares e uma quinta: Torre, Aldeia de Nogueira, Vilela, que pertencia ao termo da vila de Bobadela, com quarenta e um vizinhos, e a “quinta chamada da Costa com dois moradores.
O padre João Caldeira de Lemos, que assinou a Informação Paroquial de 1721, mostra-se extraordinariamente lacónico no que respeita à matriz de Nogueira do Cravo e apenas menciona a Senhora de Expectação como orago do templo; o mesmo acontece com as referências fornecidas a 12 de Abril de 1758 pelo padre J.Valente da Costa Godinho, a acrescentar que a igreja se encontra construída no cimo da vila e ampliar a referência no que toca ao orago; “o orago da Igreja desta vila he a Expectacam da Sempre Virgem Maria Nossa Senhora e por outro nome a Senhora do O”.
Mas a actual fábrica paroquial não é, como já referi, a que nessas datas se erguia na vila, porque o arquitecto José do Couto, o mesmo responsável pelo projecto da de Midões, intitula-se “pai” do seu risco e porque, num dos cunhais exteriores, se encontra aposto o milésimo de MDCCCV, data que, como é usual se reporta ao final da construção.
A fachada pode considerar-se um interessante exemplar da arte provincial e mostra o aspecto típico do estilo regional utilizado na charneira dos séculos XVIII-XIX, embora com persistências das tradições setecentistas.
Pilastras dóricas colossais dividem a frontaria em três panos e o entablamento geral que as une, forma, ao centro, uma curva. Coroa a zona superior da frente do templo um ático balaustrado, ostentando nas extremidades uns pseudo-fogaréus estilizados (…).
É verdade que o edifício da igreja de Nogueira do Cravo ficou terminado no inicio da centúria, mas a sua decoração prolongou-se no tempo quase até ao findar de oitocentos, facto compreensível se nos recordarmos da conjuntura que então se vivia em Portugal. Fábrica concluída, como “reza” o cunhal, em 1805, quase nas vésperas de os franceses entrarem em Portugal e de a família real partir para o Brasil, não encontra tempos propícios a gastos escusados nem o espírito das pessoas disponível para incrementar obras, mesmo que estas se processassem na “Casa de Deus”. Seguem-se os anos conturbados das invasões e os acometedores fustigaram duramente a região beirã. Pouco depois, ainda com o poder central sediado em Terras de Santa Cruz, acontece a revolução de 1820, seguida das lutas liberais. Nas terras da província, quiçá ainda mais do que nas grandes cidades, o ódio entre as facções apoiantes de D.Pedro IV e de D.Miguel (sobretudo personalizadas nas famílias mais destacadas das localidades) mostrava-se implacável. São bem conhecidos muitos, e por vezes trágicos, episódios sucedidos na zona, relacionados com o degladiar dos bandos.
Por isso não admira que a conclusão das obras da igreja de Nogueira tenha sofrido uma paragem, quase diria drástica, porque o mesmo aconteceu um pouco por todo o país, sem excluir a zona da capital, onde, desde o inicio da centúria, impera o marasmo construtivo; o primeiro grande empreendimento de vulto vai emergir apenas cerca de 1840, em Sintra, no velho mosteiro Jerónimo de Nossa Senhora da Pena, pela mão do rei consorte D.Fernando II.
O retomar dos trabalhos na fábrica nogueirense já em meados de oitocentos, fica comprovado pelos documentos que encontrei no Livro de Actas da Junta de Paróquia, no livro Diário e no Livro de Contas da “receita e despesa da Confraria do Santíssimo Sacramento”, depositados no arquivo Paroquial daquela vila (…)”.



A igreja Paroquial de Nogueira do Cravo impõe-se por um estilo que é uma importante referência à arte regional com vislumbres de pormenores setecentistas.

6 Olhares:

Unknown disse...

A data que está gravada no cunhal da Igreja é claramente MDCCCVI (1806) e não MDCCCV (1805) como está referido no Inventário Artístico de Portugal, onde certamnente a investigadora consultou.
É no entanto um trabalho notável desta investigadora, nossa vizinha, que os nossos conterrâneos, passivamente, não valorizaram.

Anónimo disse...

A Feira Franca de que se fala em 1758 era a Feira de Santiago?

Anónimo disse...

Nogueira é linda!!!!!!
Que saudades........

Unknown disse...

A feira de Santiago, de acordo com o que escreveu o padre de Nogueira, J. Valente da Costa Gouveia, respondendo a um aviso do reino de 18 de janeiro de 1758, diz que a feira era franca.
A origem das feiras francas teve o seu desenvolvimento no período medieval em Portugal.
Foi o nosso rei D. Dinis que impulsionou o seu desenvolvimento ampliando as garantias e os privilégios juridicos concedidos aos feirantes, nomeadamente na região da Beira. Pode a nossa feira ter essa origem ?

Anónimo disse...

Sem dúvida que este monumento foi uma grande reliquia que os nossos antepassados nos deixaram. É uma das igrejas mais bonitas desta região.

Anónimo disse...

ARO
realmente a nossa igreja é lindissima , obra de uma noável inveja a kualker um do povo vizinho,,,