segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Bicentenário do Nascimento de Bernardino - Parte II

Resumo do percurso de vida de um grande líder.

CONTERRÂNEO
14/12/1809- Baptizado/Nascimento em Nogueira do Cravo.

ESTUDANTE
1829- 1º Ano de leis na Universidade de Letras Coimbra
1830- 2º Ano de leis
1831- Não matriculado.

POLÍTICO
1831 - Não aparece matriculado no 3º ano da Universidade, dada a inflamada atmosfera política adversa aí vivida. Ele que, enquanto político, dizia no atestado do seu comportamento “Tem mostrado em todo o tempo grande adesão ao nosso adorado monarca o Senhor D. Miguel I não cessando de vociferar pela defesa dos seus inaudíveis direitos...).

MILITAR
1831/1834- Alistou-se no exército voluntário realista de D. Miguel, como Tenente de Caçadores, participando na guerra civil, defendendo os ideais absolutistas, contra o exército liberal de D. Pedro IV.
26/05/1834- Assina-se a convenção de Évora Monte. O monarca derrotado tem 15 dias para abandonar o país. Bernardino tem 25 anos.
01/ 06/1834- D. Miguel parte para o exílio depois de dissolvidos os seus regimentos. Acabara a guerra, mas não principiara a paz. Após a capitulação, Bernardino envolve-se num plano para devolver o trono a D. Miguel.
1835- Entretanto e para acabar com as guerrilhas, foram convocados pelo Governador Civil Henriques Seco para uma reunião em Gavinhos (Convenção de Gavinhos) os representantes de miguelistas e liberais, que teve como consequência estabelecer a paz política na região, o que não evitou a continuação de escaramuças nas quais se envolveu Bernardino.
1837- Revolta na Serra da Estrela. Juntamente com seu irmão Alexandre e Dr. Luiz Paulino de Figueiredo Fragoso de Abreu (seu parente, amigo, conterrâneo e chefe da rebelião) participa, para aclamar de novo, como rei, o senhor D. Miguel. Derrotado, deixa Nogueira do Cravo, foge com seu irmão para Porto da Balsa na Pampilhosa da Serra. Furta-se assim à captura e justiça do vencedor e esgueira-se das Beiras para Lisboa.

JORNALISTA
Bernardino passa a viver na clandestinidade em Lisboa. Faz-se jornalista, colabora no órgão Alcance e, mais tarde, trabalha assiduamente no jornal Portugal Velho, também clandestino e que defende os ideais absolutistas, enquanto outros companheiros continuam as guerrilhas contra o governo. Neste jornal fará parte do corpo de redacção.
04/08/1838- Estes jornais tiveram o seu fim com a Constituição Setembrista, dado serem órgãos do partido absolutista.

EXILADO
1839- Exila-se voluntariamente e emigra para o Brasil, fixando-se no Estado de Pernambuco. Renuncia a toda a actividade política. Assim, estando longe da metrópole, alheava-se mais das actividades do Governo Português.

PROFESSOR
Dedica-se ao ensino no Colégio Pernambucano onde fez parte do corpo docente, regendo as cadeiras de História, Geografia e Latim. Terá fundado um jornal.

ESCRITOR
Como erudito professor e para desempenhar a sua profissão dedica-se a um estudo aprofundado da História. Publicou algumas obras de índole didáctica, sendo a mais importante a História Geral (1841), em seis volumes: 1º. sobre a História Sagrada do Antigo Testamento, o 2º. Sobre a História da Vida de Jesus Cristo e dos Apóstolos e História dos Judeus desde a dispersão até aos nossos dias, o 3º. Sobre a História Antiga e Grega, o 4º. Sobre a História Romana e da Idade Média, o 5º. Sobre a História Moderna e o 6º. Sobre a História de Portugal e do Brasil. Em 1845 edita o Compêndio Elementar de Chronologia e em 1847 o romance histórico, descritivo, moral e crítico, Nossa Senhora dos Guararapes.
Destes livros possuímos este romance. Segundo M.J.Mendonça Torres que em 1949 contactou um parente, já falecido, este possuía a obra completa.
1844- Entretanto na Assembleia Provincial de Pernambuco é proposta a expulsão de portugueses solteiros, como é o caso de Bernardino. Há um movimento de hostilidade dos naturais, contra aqueles que, nascidos na Europa, faziam a sua vida no Brasil, como acontecia no restante continente americano.
8-9-10/12/1847- Violência no Brasil com arruaceiros, exigindo a expulsão dos portugueses solteiros.

PATRIOTA
13/07/1848- Do Recife, endereçou uma carta ao Ministério da Marinha e Ultramar, solicitando mapas e relatórios sobre Angola com informações detalhadas. Pede auxílio material que permita o transporte de pessoas e bens desde o Recife até ao local a definir em Angola. Entretanto organiza uma colónia agrícola de povoadores.
O Governo faz a proposta no parlamento para a afixação da colónia em Mossâmedes. Recebe (Bernardino) através de Luz Sariano do Ministério um relatório detalhado, com mapas, memórias e tudo-“Memórias sobre a Angra do Negro”. Através destas é dado todo o apoio de auxílio e meios de deslocação solicitados e envia-lhes os barcos “Douro e Vila Flor” para a sua segurança do Recife.
26/10/1848- O Governo resolve aceitar o oferecimento dos colonos portugueses atendendo à pretensão de Bernardino e faz expedir a portaria n.º 2063. “Mandar expedir as providências necessárias para a passagem dos mencionados portugueses, para o lugar das possessões em África, que por eles for escolhido.”
26/12/1848- Nesta data é criada no Recife uma comissão especial, presidida pelo Cônsul de Portugal, Bernardino e mais quatro portugueses. Mas, segundo Castro Alves, reuniram-se a primeira vez em 23/01/1849 os dois primeiros e só em 27/01/1849, foi alargada aos restantes.
31/01/1849- O Diário de Pernambuco desta data, publicou um edital datado de 29/1, em que o presidente comunicava que o Governo concedia as seguintes facilidades... (atrás referidas: passagens, sustento e facilidades...).
02/02/1849- Ataque das forças do Praieiro no Recife, em que nomeadamente os portugueses têm a ajuda dos dois brigues acima referidos.
27/03/1849- Começa a funcionar a comissão, que leva a que tudo esteja pronto para o embarque de modo a dirigirem oportunamente a viagem dos colonos para o porto que escolhessem, em qualquer das províncias d`Africa.
29/03/1849- O Governo-geral de Angola informava o Ministro da Marinha e Ultramar de ter sido escolhida a província de Angola e o local de Mossâmedes.
15/05/1849- Diário de Pernambuco Noticia “que o cidadão português Bernardino se retira para Moçâmedes, levando na sua companhia 3 criados. Qualquer conta que deva na praça, pode ser apresentada no seu escritório da Rua da Cadeia Velha, n.º 3.... e aqueles que lhe devam contas, mesmo ainda do tempo que dirigiu o colégio Santo António, querendo pagá-las, ali podem dirigir-se.”
23/05/1849- Às 4 horas da tarde, a colónia saiu do Porto de Pernambuco, rumo a Mossâmedes, na barca brasileira Tentativa Feliz c/166 pessoas (ou 180?), incluindo um cirurgião e um barbeiro, fundeando nessa noite no Lamarão. Estiveram lá todo o dia e saiu no dia 25, seguida do brigue de guerra Douro, encarregado de acompanhar a barca à vela. (há descrição da viagem por Bernardino)

COLONO
01/08/1849- Após dias de viagem entra na baía de Mossâmedes o Brigue Douro, avistando longo areal, servido pelo rio seco Bero.
04/08/1849- Com 74 dias de viagem, desembarcam após a chegada da barca Tentativa Feliz. Na viagem pereceram 8 pessoas. Têm recepção de boas vindas por parte de entidades distritais e indígenas. O Governador-geral que os esperava há dias teve de regressar a Luanda por necessidade de serviço.
16/08/1849- Bernardino segue no brigue Douro para Luanda, a fim de apresentar cumprimentos ao Governador-geral.
22/08/1849- Chega a Luanda onde se demora dois meses, após ter sido recebido pelo Governador-geral “com as mais decididas provas de contentamento”.
13(14)/10/1849- Bernardino é investido no Conselho Colonial de Mossâmedes, após o que faz viagens de estudo.

AGRICULTOR
21/10/1849- Içada a bandeira Portuguesa às 7 horas da manhã, no Vale dos Cavaleiros. Salva de 21 tiros (houve arraial…, foguetes.). O local passa a chamar-se o sítio da Bandeira. Aí Bernardino, líder incontestado de rija têmpera, ergue a sua habitação. Começa então a inspeccionar a região procedendo-se à distribuição de terras na foz do rio Bero no Vale dos Cavaleiros, entre outros lugares, instalam os engenhos agrícolas do açúcar trazidos de Pernambuco e principiam a construção da Capela de Santo Adrião, cuja primeira pedra tinha sido lançada a 27/07/1849, uma semana antes. É que a travessia atlântica foi extraordinariamente lenta e o Governador-geral, de nome Adrião, não pôde esperar. Hoje é a Igreja Paroquial de Santo Adrião.
1850- (Abril) -Bernardino envia, com entusiasmo, ao ministro da Marinha, a primeira amostra de aguardente fabricada na colónia.
13/10/1850- Sai do Brasil mais uma colónia de 145 (125?) emigrantes
26/11/1850- Chega a Mossâmedes esta 2ª colónia com mais 125 pessoas de Pernambuco.

JUIZ
13/12/1852- Decretada a criação do lugar de juiz ordinário de Mossâmedes, cujas funções Bernardino veio a exercer durante vários anos, dando mostras de elevado sentido de justiça.
24/11/1854-Bernardino, em carta dirigida ao Ministro da Marinha, preconiza e consegue a cultura do algodão, menos exigente em água.
26/03/1855- Decretada a elevação de Mossâmedes a vila.
07/05/1855- Por carta régia desta data, Mossâmedes é elevada a Vila.
1856- Existem 36 casas de pedra e 8 de adobe e nasce o Município de Mossâmedes.
22/12/1856- Bernardino elabora o mapa da sua actividade económica, como era exigido pela edilidade, mostrando que o passivo aumentava. A causa foi o incêndio que em Junho desse ano devastou a sua propriedade, destruindo a maior unidade industrial do distrito.
1857- Entretanto a vida segue e bate-se pela abolição da escravatura. Aplica-a na sua fazenda.
1858- Portugal decreta que passados 20 anos, não haverá mais escravos, como se verá em 25/02/1869.
04/08/1859- Décimo aniversário da chegada da colónia. Escritura de Promessa e Voto como testemunho público do seu reconhecimento, conforme texto mais à frente e em que intervém Bernardino.
14/03/1860- O vale dos Cavaleiros, onde se situa a exploração agrícola de Bernardino é invadida e destruída, o que acontece pela segunda vez.
21/04/1860- Por despacho desta data se dá conhecimento que, a bordo do vapor português D. Stephania, viaja para Lisboa o passageiro do Estado, Bernardino. O objectivo da viagem é, uma vez que o Governador-geral de Angola foi impotente para ajudar os agricultores e face à destruição, ir junto do Governo da Nação procurar ajuda e diminuição nos impostos.
Regressa a Mossâmedes, passado ano e meio em Lisboa, sem conseguir o que pretendia.
24/04/1866- O despacho desta data do Conselho Ultramarino, passados seis anos, nada resolve. Nos cinco anos que se seguiram até à sua morte, não consegue refazer-se da totalidade dos prejuízos sofridos. Os seus compromissos jamais puderam ser amortizados. Não mais recupera.
25/02/1869- Data da publicação do decreto que “abole o estado de escravidão em todos os territórios da monarquia portuguesa.”
14/11/1871- Faleceu aos 62 anos de idade, pobremente, quando regressava de Luanda em serviço da comunidade. O povo de lá nunca o esqueceu. E a sua terra natal? Saberá o que dela disse o Patriarca de Nogueira do Cravo?

4 Olhares:

Anónimo disse...

Quem eram seus pais, seus irmãos. Quem descende dele em Nogueira do Cravo?....

Anónimo disse...

Não tem descendentes, pergunto novamente????

Anónimo disse...

A resposta à sua questão já foi dada na publicação da primeira parte deste trabalho. Como o master diz, em breve será publicada toda a àrvore genealógica de Bernardino.

Anónimo disse...

Bernardino morreu solteiro. No entanto teve um irmão chamado Alexandre de Campos Freire Figueiredo Abreu e Castro que é o bisavô do Dr. Vasco de Campos. Em Nogueira é ainda parente da familia Vaz Patto, D.Maria Adelaide(mãe do Dr.Correia da Fonseca-Patrono da escola primária de Nogueira) e ainda parente do senhor Pina de Fundo de Vila, falecido em 1973 (dono da casa onde durante muitos anos funcionou o antigo posto médico).