Não conhecendo a história inicial da antiguidade desta romaria, vou, através de uma fotografia de 08/06/1935, recordar, aqui, outros tempos.
E assim, poderemos observar na imagem os protagonistas da comissão de festas desse ano: Em primeiro plano Américo Peres, João Ferreira, Serafim Costa e Valério. Em segundo plano António Alves dos Santos, o electricista da Câmara Laceiras e Afonso da Costa Mendes.
O dia começava com a habitual alvorada, seguida pela actuação da filarmónica, percorrendo as ruas da sede da freguesia. Entretanto, iam-se instalando as bancas de venda, como dos ourives (atrás da capela), de bonecos e toda a espécie de carrinhos de lata ou madeira e demais brinquedos, as doceiras de Lagares, também como os ainda habituais vendedores de pimentos e as primeiras cerejas do vale do Alva.
Com o aproximar da hora e como era principalmente uma festividade religiosa, o clima ia-se compondo à medida que se aproximava a celebração da missa. Nesse tempo ainda se vivia o espírito de romaria. Era ver os romeiros, provenientes das quintas e lugares das redondezas, caminhando com a família, vestindo os melhores fatos domingueiros, a mulher levando à cabeça o típico cabaz de verga com a merenda e os homens liderando a caminhada, com o chapéu na cabeça, como era hábito naquele tempo.
Naquele ano a festa foi rija, já que houve disputa de duas bandas para um só coreto, tendo sido privilegiada aquela que tocasse mais e melhor. A outra teve de contentar-se com uma solução de recurso.
Era na parte da tarde que propriamente se desenrolava a festa. Os romeiros começavam a sinalizar os locais onde iriam merendar, normalmente durante ou após a passagem da procissão: à cabeça com o Pendão da Irmandade de Nª Sr.ª do Rosário, seguida dos tradicionais andores do Senhor das Almas, N.Srª da Guia, da Saúde e das Dores, o povo cumprindo ou não promessas acompanhando as crianças vestidas de anjos, o Pálio, a filarmónica e o povo em geral. Era o ponto alto da festa religiosa que culminava, na parte final, com uma grande descarga de foguetes.
Os locais de merenda preferencialmente escolhidos eram muito perto da capela, como o pinhal da Ucha e o que está circunscrito ao pinhal junto ao parque. Quanto a este, não existia como tal, antes era cultivado com cereais, o que motivava, por vezes, sérios conflitos. É que era inevitável alguma devassa e quem o cultivava, não gostava mesmo nada…!
Voltando às merendas, a mesa era posta no chão, as pessoas sentavam-se à volta e aí saboreavam a boa merenda, não sem que se bebesse do melhor vinho, quer de origem caseiro, quer de compra, numa ou duas barracas onde se vendia também a laranjada e o já célebre “pirolito”.
De regresso a casa, já sem pensar no jantar, lá seguiam os cestos da merenda, agora bem mais leves, mas com os romeiros mais animados, sobressaindo a estampa de uma das imagens religiosas, tradicionalmente colocada na fita dos chapéus na cabeça dos homens. Era o Romeiro em fim de festa.
Tamarres