quinta-feira, 26 de março de 2009

Nossa Senhora dos Guararapes

Por
Bernardino Freire Figueiredo Abreu e Castro

Este foi o título do primeiro romance Pernambucano de autoria do nosso ilustre conterrâneo, editado em 1847 naquele estado federal brasileiro.

No ano em que se celebra o bicentenário do seu nascimento e que espero seja comemorado condignamente pelos Nogueirenses, sob pena de tremenda injustiça, não resisto em transcrever um trecho da obra literária de um homem idealista, lutador, corajoso, mas também sensível, com muita saudade da sua pátria, da terra e da família, como a seguir ele escreve:

“Ah Pátria querida! Aceita cá de longe o suspiro da mais viva saudade, que te envia o desterrado filho teu.

Foi em ti que passei a primavera da vida que tão rápida se esvaece, que mal se sente. Veiu a poz a estiva quadra que apenas toquei e gozar não pude no solo teu! Malfadada sorte me afuguentou de ti, e cá de tão longe ouço os teus gemidos, que estalar de dor me fazem o coração!...Oh ! como me lembram o solar paterno, e aquelles cujas veas corre o mesmo sangue!- como os amigos da infância, os folguedos innocentes, os sítios das primeiras impressões!- como as carícias da minha disvelada Mãe, os bellos dias d`Abril, as suas lindas manhãs, em que a vista se recrea por aquelles campos de boninas, e mais flores variegadas por entre aquellas alcatifas de verdura; em que os ouvidos de afinam com os gorgeios da sem par filomela; e em que o olfato se apura pelos esquesitos perfumes das cilindras, das assucenas, dos lírios, das violetas, dos jacintos, dos annuncios, dos junquilhos, e de mil outras flores que difícil fora enumerar!- como me sam presentes os passos rápidos a traz dos cantores dos bosques para colher nos laços, e mil armadilhas, voltando depois aos queridos braços da minha carinhosa Mãe para tão bem colher o doce beijo e agradável sorriso das maternaes faces! Dias ditosos! Que manso e manso vos evaporastes todos, para não mais volver, e que só deixaste saudades tantas, para onde voaste? Meigos sorrisos que vos agitáveis nos innocentos lábios meus, para onde fugiste? Luz insonte! Que brilhava nos meus puros olhos para onde te ausentaste, que agora ou elles tristes derramam copiosas lágrimas, ou retratam da alma a profunda meditação? Tudo, tudo se esvaeceu, e apenas resta a esperança- esta de todas a mais fiel amigas, a mais constante companheira- esta sim, esta eu ca sinto d`entro da alma, a qual, depois de deixar á terra o que á terra pertence, irá encontrar, bem sei aonde, eternos bens.”

- transcrição da página 225 do romance supracitado.

Tamarres